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#03 – JUNHO 2024

EDITORIAL

Adriana Rodrigues (EBP/AMP)
Thereza De Felice
Comissão de Boletim

O Boletim Coda#3 segue trazendo em suas páginas reflexões-convite, rumo ao XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano.

Neste número do Boletim, ilustrado pelas obras de Arthur Bispo do Rosário, mestre em fabricar seu corpo com mantos e palavras, o leitor poderá conferir na íntegra os textos referentes aos eixos 1 e 2, apresentados por Luiz Fernando Carrijo e Marcelo Veras, na ocasião da primeira preparatória para o Encontro, no último dia 18 de maio. O eixo 1 – capturas imaginárias e o real do corpo – é um convite a pensar os efeitos e as invenções do corpo como suporte ao discurso. De um modo mais preciso, Carrijo destaca que, nas tentativas, via imagem, de se arranjar com o corpo que se tem, há sempre um ponto que fracassa….

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EIXOS TEMÁTICOS

Eixo 1: Capturas imaginárias e o real do corpo

Luiz Fernando Carrijo da Cunha (AME da EBP/AMP)
Coordenador da Comissão Científica

Partamos da afirmação de Lacan de que o corpo é suporte do discurso, não forçosamente um corpo, mas, ao implicar o gozo, esse corpo não está inteiramente só, há um outro corpo. Trata-se, pois, do “gozo corpo a corpo”. Entrevemos, nessa afirmação, a presença já marcante do imaginário dando suporte a um gozo, por excelência não localizável. Se é através do discurso que um sujeito pode ser localizado, isso não implica a localização do gozo.

Um suporte, portanto, que é inaugurado em sua configuração narcísica através da imagem do outro. O corpo, assim, imerso no imaginário, torna-se matriz da relação do sujeito com o mundo, onde a incidência da linguagem…

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Eixo 2: Incidências do discurso da ciência sobre os corpos

Marcelo Veras (AME da EBP/AMP)
Integrante da Comissão Científica

O título do Eixo 2, “Incidências do discurso da ciência sobre os corpos”, traz de imediato uma afirmação que nos serve de bússola, pois, ao perguntarmos qual a incidência do discurso da ciência sobre os corpos, inferimos que os corpos não são propriedade do discurso científico, este apenas incide sobre eles, assim como incide no Outro social. Contudo, tal como Napoleão, que se auto coroou Imperador da França, a ciência assumiu o Discurso do Mestre contemporâneo e se autoproclamou detentora da verdade sobre os corpos. Mas eles são afetados igualmente por outros discursos, como o político, o religioso ou o histérico. Seria igualmente o caso do Discurso do Analista? Eis um programa de pesquisa para o nosso Encontro: qual a especificidade do Discurso do Analista diante da babel discursiva? Para o cientista Javier Peteiro, autor do livro O autoritarismo científico

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Comentários dos eixos 1 e 2

Rômulo Ferreira da Silva (AME da EBP/AMP)
Coordenador Geral do XXV EBCF

Bom dia! Muito bom estar aqui, em Salvador, na companhia de colegas e amigos da EBP para essa atividade tão bem acolhida pela Seção Bahia, principalmente por seu diretor geral, Luiz Felipe Monteiro.

Vou logo para a minha função de animar essa atividade com questões para nossos apresentadores, Luiz Fernando Carrijo e Marcelo Veras. Eles estão aqui, representando a Comissão Científica do Encontro, portanto, toda a comissão está concernida no que foi apresentado e, certamente, ávida para entrar na conversa.

Como vimos, os eixos 1 e 2 são bem articulados entre si, tanto no que se pode ler em seus argumentos, como no que acabamos de escutar.

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NOTAS E TONS

Mulheres, obedeçam!

Oscar Reymundo (EBP/AMP)

Esse aumento da violência contra as mulheres parece, então, guardar uma relação com a força que, na nossa cultura, vem adquirindo o discurso do empoderamento feminista e seus efeitos de novas conquistas de direitos. Trata-se da potência de um discurso que permite a muitas mulheres, cada uma do seu jeito, assumir, fora e dentro de casa, posicionamentos e responsabilidades em espaços tradicionalmente considerados e reservados para os homens, sem, por isso, necessitar cobrir seus novos corpos com roupas masculinas, ou roupas que ocultem um corpo feminino.

Foi em uma experiência de supervisão de psicólogas de uma instituição que acolhe mulheres vítimas de violência, quando tive a oportunidade de perceber o uso, como imperativo de época, que se pode fazer do significante “empoderamento”…

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Tecidos e palavras

Aléssia Fontenelle (EBP/AMP)

Como fazer suportável o corpo próprio? Os analisantes falam com o corpo que habitam e que engendra ações e paixões. De que corpo falamos? Do corpo que se é ou do corpo que se tem e seus restos? No limite imposto por isso que escapa e que não cessa de se escrever, como vestir o gozo para habitar o corpo que o aloja?

O Outro – do qual recebemos as palavras que entranham, que nos representam e nos desnaturalizam – introduz a problemática do corpo e as distintas modalidades de gozo da civilização onde transitamos. O “efeito da linguagem se padece”, nos dirá Lacan. Já não estamos nos tempos em que o real era abordado pelos mitos e pelas crenças compartilhadas. Agora, com o arrefecimento das práticas discursivas e o esvaziamento das ideologias, o discurso preconiza o mais-de-gozar e, com a hipertrofia do uso dos objetos, cada um está autorizado a viver seu próprio modo de gozo, cada um isolado em seu mundo de gozo, ainda que “essencialmente embaraçado por histórias”.

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…DIZERES E SUAS REVERBERAÇÕES

Certo, dr. Lacan, não é pouca coisa

Louise Lhullier (EBP/AMP)

Uma catástrofe destrói vidas, cidades e sonhos no Rio Grande do Sul. Não foi surpresa. Há muitos anos, vários estudos alertavam para o perigo. Uma enchente ocorrida seis meses atrás anunciava o que viria. Não foi suficiente. O “não querer saber nada disso” prevaleceu.

Júlia Dantas descreve como ela e o marido continuaram “confiantes” e “otimistas” mesmo quando andaram com água até os joelhos para ir às compras no sábado, e como tudo parecia “absolutamente normal” no resto do bairro. Naquela noite a água começou a invadir seu apartamento. A força do desejo foi o motor de uma luta que se estendeu até o domingo, para salvar suas coisas…

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Este impasse crescente da nossa civilização

Cleyton Andrade (EBP/AMP)

Enquanto escrevo, o desastre no Rio Grande do Sul ainda está em curso. Há muito sofrimento e perdas envolvidas. Porém, infelizmente, muitos o transformam em palco para mais uma das numerosas operações que resultam em impasses para a noção de verdade. Defender a verdade parece algo antiquado (Miller, 2011) e muitas vezes, inútil. Afinal, o mecanismo em jogo não é apenas sobre a mentira e nem sobre o falso como oposição ao verdadeiro. Dizer ostensivamente que não há Estado, que não há instituições, nem organizações, com afirmações peremptórias de ações supostamente exclusivistas dos civis que salvam civis, diante da alegada inação do Estado e até de dificuldades impostas por ele, se apresenta como um dos nomes reeditados do sujeito liberal. Esse mesmo sujeito é central e fundamental no capitalismo, por ser ele mesmo uma expressão de uma vontade que transborda barragens e inunda de gozo seu circuito. Esse senhor do capitalismo, que reaparece nos movimentos radicais e reacionários de extrema direita, nos ajuda a entender um trecho do curso O Banquete dos analistas, de Miller. E ambos nos permitem atualizar uma leitura sobre como o capitalismo não só absorve, como retroalimenta os impasses da civilização, num movimento perpétuo.

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ARTE E CULTURA

A Comissão de Arte e Cultura conta, para este número do boletim, com a luxuosa participação de Guilherme Gontijo Flores para uma interlocução entre campos. Poeta, tradutor e professor da UFPR, nosso convidado tem um percurso intenso com os usos da língua, seja pela via autoral…

Restos de poética. Poéticas, de resto.

Guilherme Gontijo Flores

Poetas, como a maioria das pessoas, nascem pensando que precisam, antes de tudo, ter uma voz. Mais ingenuamente, supomos, poetas que somos, que devemos, pra isso, criar uma voz. Moldá-la, guardá-la, expô-la. Formá-la minuciosamente pra que seja reconhecida acima de tudo, além de todos; …

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INSCRIÇÕES

LIVRARIA

FESTA

Diretoria do Encontro: Patricia Badari (Presidente) | Niraldo de Oliveira Santos (Diretor) | Alessandra Pecego e Rômulo Ferreira da Silva (Coordenadores Gerais)

Comissão do Boletim: Coord:
 Gustavo Menezes (SP) e Renata Gomes Martinez (RJ) | Adriana Rodrigues (SUL) | Cleyton Andrade (NE) | Daniela Nunes Araújo (BA) | Fabrício Donizetti (SP) | Olívia Viana (MG) | Thereza de Felice (RJ)

Designer: Bruno Senna

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