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INDICAÇÕES PARA OS TRABALHOS DA JORNADA CLÍNICA E EIXOS TEMÁTICOS

Orlan. “Les Femmes qui pleurent sont en colère”, n.4, 2019.

A Jornada Clínica do XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano irá ocorrer no dia 08 de novembro de 2024.

Com o objetivo de aprofundar a investigação e a discussão do tema do Encontro, as contribuições para a Jornada Clínica deverão se dar na forma de apresentação de caso ou de um fragmento clínico.

Três aspectos, entre outros, serão considerados:

  1. Que a apresentação do caso, como resultado de um trabalho de concisão, possa destacar os aspectos relevantes para a discussão;
  2. Que na apresentação do caso estejam assinalados os efeitos produzidos no tratamento a partir da presença e do dizer do analista;
  3. Que uma questão seja proposta para a discussão, considerando a temática do eixo para o qual o texto estiver endereçado.

Uma referência conceitual ou alguma citação que possa contribuir para a discussão serão bem-vindas, com o cuidado para que as elaborações teóricas não se sobreponham à singularidade ou a uma eventual novidade trazida pelo caso.

Os textos, a serem enviados em formato de arquivo Word, deverão ter no máximo 6000 caracteres com espaço, escritos em fonte Times New Roman 12, com espaçamento de 1,5.

Antes do título, solicita-se a inserção do nome completo do autor, seu e-mail, número de WhatsApp e o eixo para o qual o texto estiver endereçado.

No assunto do e-mail, deverão vir os seguintes dados:  XXV EBCF – Jornada Clínica – SOBRENOME, Nome; Eixo…

Os textos deverão ser enviados, no mais tardar, até o dia 15 de setembro, para o seguinte e-mail: jornadaclinica25@gmail.com

Caso não receba a confirmação de que seu trabalho foi recebido até o dia 18/09, favor reenviar o e-mail.

Observação: Lembramos que, para o envio de trabalhos endereçados à Jornada Clínica, os autores deverão estar previamente inscritos no Encontro.


EIXO 1: CAPTURAS IMAGINÁRIAS E O REAL DO CORPO

Toda realidade é suspeita, mas não por ser imaginária, como me imputam dizer, pois é bastante patente que o imaginário, tal como surge da etologia animal, é uma articulação do real.

Lacan, 1971-72, p. 167

Sabemos que a imagem é uma das formas fundamentais e decisivas de se arranjar com o corpo que se tem. No entanto, o que se vê hoje é um verdadeiro empuxo à imaginarização do mundo. O narcisismo aparece regido por ideais de saúde e beleza que prescrevem fórmulas transmitidas em escala global pelas redes sociais, produzindo um imperativo de como se deve tratar o corpo-imagem, exibido em sua plenitude, objeto da civilização do gozo, caracterizando o individualismo de massa.

Da mesma forma, a biotecnologia e os aparatos tecnológicos atingem um alcance cada vez maior com a promessa de “tudo ver”, proliferando imagens do corpo, tanto em sua forma, quanto em seu funcionamento “como remédio para a angústia contemporânea, visando a uma regulação dos gozos pela escopia dos corpos. […] Assim o corpo-máquina faz par com o corpo-imagem”[1]. A ideia é a de dar consistência ao corpo como imagem e, dele, poder tornar-se senhor. Entretanto, o corpo escapa a qualquer identificação totalizante; há sempre algo dele que permanece fora da imagem corporal, irrepresentável. Resta um corpo infamiliar, que a imagem não consegue capturar; um gozo que não se inscreve e faz obstáculo a essa diluição do ser falante na confusão imaginária. Ou seja, não se captura o gozo com imagens. Como esse real que não se inscreve retorna, hoje, no laço social? Qual a orientação para o analista diante daquele que chega capturado nessa pregnância imaginária?

Seguem alguns temas para a discussão:

  • Quando o imaginário faz obstáculo à entrada em análise
  • O corpo tatuado e os cortes no corpo
  • Identificações imaginárias e a erosão do binarismo sexual
  • O gozo que transborda o imaginário

EIXO 2: INCIDÊNCIAS DO DISCURSO DA CIÊNCIA SOBRE OS CORPOS

Trata-se de pensar a clínica psicanalítica nos tempos atuais. Se o século XX foi o século das máquinas, o século XXI é aquele em que o corpo e os limites do humano estão em questão.

Surge uma vertigem de milhares de intervenções corporais possíveis, em todos os âmbitos: das cirurgias estéticas às alterações de reparo no próprio DNA; das novas técnicas de reprodução à luta para alcançar a imortalidade; da medicalização da existência aos procedimentos de redesignação de sexo… tudo se passa em um ambiente que tornou caduca a ideia de um puro discurso da Ciência que não seja afetado, regulado e até mesmo criado a partir de injunções mercadológicas e políticas.

Assim, a Ciência não é mais capaz de apaziguar com sua verdade – basta recordarmos da fenda aberta no Outro durante a pandemia, entre os que apoiavam e os que rejeitavam a vacinação. O sujeito contemporâneo está mergulhado nessa trama de Ciência e pseudociência que impulsiona uma batalha dos discursos e o reforço das posições identitárias em detrimento do sintoma de cada um.

O convite é para que sejam encaminhados casos, tanto de psicanálise pura, quanto de psicanálise aplicada, nos quais seja possível demonstrar o ponto preciso, agudo, em que a ação do analista permitiu uma separação entre o falasser e seus discursos condicionantes. Os efeitos do mergulho da humanidade no campo das redes sociais foram rapidamente identificados como patologias de alienação e separação do Outro. Irrompe, desse modo, uma clínica em que os corpos estão cada vez mais rotulados.

Seguem alguns temas para a discussão:

  • A fibromialgia como expressão de uma histeria rígida?
  • O luto medicalizado e tratado como depressão
  • TOC como evacuação da culpabilidade inconsciente na neurose obsessiva
  • A hiperatividade como submissão ao imperativo de “todos conectados”
  • A inclusão indiscriminada de crianças que rejeitam a hiperconectividade no espectro autista

EIXO 3: O REAL DA SEXUAÇÃO E O DIZER DA ANÁLISE

Para a psicanálise de orientação lacaniana, a sexuação se organiza, simbolicamente, pelo consentimento do sujeito, a partir do que lhe é atribuído pelo Outro. Porém, o que a causa “finca suas raízes no enigma do real”[2]. Não é o órgão como representante binário que faz existir a diferença sexual, pois o que possibilita a sexuação é a relação do sujeito com o gozo: “Trata-se de separar a sexuação a partir estritamente de algo que é do real”[3].

Por outro lado, o discurso do mestre contemporâneo traz a promessa da garantia de um atributo capaz de unificar uma classe. Mesmo com infinitas ofertas que prometem enlaçar o excedente pulsional ao discurso, seja por modificações corporais, performances ou nomeações sociais, algo insiste e nos chega sob a forma de angústia, desamparo, depressão ou crise.

O real da sexuação e o dizer da análise formam, portanto, um par heterogêneo que coloca em tensão o que se enlaça contingencialmente em uma análise. Como se articulam e qual é o limite dessa articulação?

Quais saídas o sujeito inventa para tratar o real do sexo?

Seguem alguns temas para a discussão:

  • “Amores fluidos” e a fixidez do gozo
  • Entrada na adolescência, instante de ver e empuxo a concluir
  • O ideal da união sem restos e os amores loucos
  • Efeitos do dizer da análise nas soluções singulares
  • O (des)encontro com o Outro sexo e a identidade de gênero

EIXO 4: O CORPO “FORA DO DISCURSO”

Neste Eixo, teremos a oportunidade de esclarecer, a partir da experiência clínica, o que do corpo não é alcançado pelo discurso. Cabe aqui uma distinção entre o que Lacan assinala como “o mistério do corpo falante”[4] e o que seriam os corpos tomados pelo discurso. Uma indicação vem de seu comentário a respeito do autismo e da esquizofrenia. Se nos interessamos em saber por que haveria neles algo que “congela”, isso não significa que seus corpos não estejam imersos e, por vezes, assolados pela linguagem. No entanto, o que há de sugestivo nessa clínica, dirá, é que a linguagem, nesses casos, não parece “morder” o corpo.

Por outro lado, será uma oportunidade para examinar o que está em jogo quando nos referimos ao sinthoma como “acontecimento de corpo”. De que ordem é esse acontecimento, o qual, como constatamos na clínica, não provém de um discurso? O que há nele que antecede a qualquer articulação significante, como iteração do momento inaugural do encontro com o gozo?

Se nos interessamos pelo que do corpo se manifesta como fora do discurso, também será de interesse considerar as modalidades de gozo experimentadas como “fora do corpo”. Para Lacan, o paradigma desse gozo “fora do corpo” é o gozo fálico. Trata-se de um gozo que interroga o corpo em sua consistência imaginária, como se ali houvesse uma “vida própria” que não responde aos discursos com os quais se procura ordenar a relação com o próprio corpo.

Isso nos leva a considerar, na clínica, os momentos em que o falasser se vê diante de um corpo que tende a sair fora, de um corpo que parece colocar em questão a sua própria “consistência mental”.

Por fim, cabe lembrar que Lacan se refere à interpretação, como dizer do analista, como algo discrepante em relação aos discursos que visam a agarrar o corpo. Não é por acaso que, em relação à interpretação, ele irá evocar a dimensão oracular da palavra e o “fora do discurso” das psicoses, como balizas que permitem localizar os efeitos dos significantes sobre os corpos, para além dos efeitos de sentido.

Seguem alguns temas para a discussão:

  • O corpo “fora-do-discurso” na clínica das psicoses
  • Os impasses com o gozo fálico como gozo “fora do corpo”
  • O corpo “fora do discurso” na clínica com os autistas
  • Quando a língua não morde o corpo: o “dito esquizofrênico”
  • O corpo que tende a sair fora e seu manejo em uma análise
  • O sinthoma como acontecimento de corpo

[1] Laurent, É. O avesso da biopolítica: uma escrita para o gozo. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2016, p. 15.
[2] Bassols, M. “Fundamentos da sexuação em Lacan”. In: Latusa 26: binarismo em crise – gênero e sexo nos tempos que correm. N. 26. Rio de Janeiro: EBP-Rio, 2022, p. 36.
[3] Laurent. É. “Argumento: Por que o Um?”. In: Leituras do Seminário… Ou pior de Jacques Lacan. Gorski, G. G.; Fuentes, M. J. S. F. (Orgs.). 1ed. V. 1. Salvador: Escola Brasileira de Psicanálise, 2015, p. 38.
[4] Lacan, J. (1972-1973) O Seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 178.
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