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Abaixo, vocês encontram uma seleção de parágrafos extraídos de algumas das publicações sugeridas na Lista geral de referências bibliográficas. Pequenos trechos que serão apresentados, ao longo dos meses até a data de nosso Encontro, sob questões formuladas pela Comissão de Referências a partir da leitura do Argumento. Uma série de citações pinçadas a dedo que esperamos que também contribuam com os estudos de cada um!

  1. Corpos constituídos [Attraper] pelo discurso?

“…Estou falando da variável aparente. A variável aparente x constitui-se de que o x marca um lugar vazio naquilo de que se trata. A condição para isso funcionar é que coloquemos exatamente o mesmo significante em todos os lugares reservados vazios. Essa é a única maneira da linguagem chegar a alguma coisa. E foi por isso que me expressei nesta formulação: não existe metalinguagem.” (LACAN, J. O seminário, livro 19: …ou pior [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 12).


“Vocês realmente precisam se dar conta de que aquilo de que dependem mais fundamentalmente – porque, afinal, a Universidade não nasceu ontem – é do discurso do mestre/senhor, que foi o primeiro a surgir, e além disso, é ele que perdura e que tem pouca probabilidade de ser abalado. (LACAN, J. O seminário, livro 19: …ou pior [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 220)


“Será que isso quereria dizer, do que bem parece que sou mantenedor, que o sujeito está condenado a só se ver surgir in initio, no campo do Outro? Isto podia ser assim. Muito bem!, de modo algum – de modo algum – de modo algum. A alienação consiste nesse vel que – se a palavra condenado não suscita objeções da parte de vocês, eu a retomo – condena o sujeito a só aparecer nessa divisão que venho, me parece, de articular suficientemente ao dizer que se ele aparece de um lado como sentido, produzido pelo significante, do outro ele aparece como afânise.” (LACAN, J. O seminário, livro 11: os quatros conceitos fundamentais da psicanálise [1964]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988, p.199)


“Na primeira concepção de Lacan sobre o lugar de inscrição que permitiria enganchar simbólico e corpo, existe uma confusão entre o Um do corpo que se apresenta sob a forma de um indivíduo, e o Um do significante que se repete. Naquele primeiro momento, tratava-se do corpo imaginário, da imagem. O narcisismo aí foi pensado a partir do Estádio do Espelho. No Seminário 19, entretanto, não é o corpo que do ponto de vista do imaginário que lhe interessa e o próprio Lacan denunciou aquele primeiro momento como sendo insatisfatório para pensar a inscrição do Um no corpo, tendo em vista sua amarração com o simbólico. Nesse momento, trata-se de um novo projeto. No Seminário 19, Lacan estava empenhado em saber como se inscreveu o Um, e se é possível pensar na inscrição do Um, não só pela imagem e por seu caráter de individuação, mas a partir do gozo como tal.” (LAURENT, E. Por que o Um? In: GORSKI, G. e FUENTES, M.J.S. (org.). In: Leituras do Seminário …ou pior de Jacques Lacan. Salvador: Escola Brasileira de Psicanálise, 2015, p. 33)

“O objeto a não forma parte da estrutura da linguagem, mas daquela que Lacan chama discurso, que precisamente realiza a recuperação do que não está na estrutura da linguagem. Essa perda que carrega a estrutura da linguagem, a estrutura do discurso a transforma em produto no discurso que Lacan chama do mestre.” (Miller, J.-A. S’truc dure, El uno en la experiencia analítica. In: Lecturas del Seminário 19 …o peor”. P. 32)


“Quanto ao sujeito do inconsciente, ele engrena sobre o corpo. Será preciso repisar que ele só se situa verdadeiramente a partir de um discurso, ou seja, daquilo cujo artifício cria o concreto, e como! Daí, que se pode dizer – a partir do saber que ex-siste para nós no inconsciente, mas que só é articulado por um discurso –, que se pode dizer do real que nos chega através desse discurso? É assim que sua pergunta se traduz em meu contexto, ou seja, parece louca”. (LACAN, J. Televisão. In: Outros Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 2003, p. 535)

“De fato, o sujeito do inconsciente só toca na alma através do corpo, por nele introduzir o pensamento: desta vez, contradizendo Aristóteles. O homem não pensa com sua alma, como imagina o filósofo. Ele pensa porque uma estrutura, a da linguagem – a palavra comporta isso –, porque uma estrutura recorta seu corpo, e nada tem a ver com a anatomia”. (LACAN, J. Televisão. In: Outros Escritos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed, 2003, p.511)


“Por supuesto, hay un fundamento para querer-decir del síntoma. Ese fundamento es que desde el origen hay una relación con lalengue. Lacan subraya que lalengue es para cada uno algo recibido y no aprendido. Es una pasión, se la sufre. Hay un encuentro entre lalengue e el cuerpo, y de ese encuentro nascen marcas que son marcas sobre el cuerpo. Lo que Lacan denomina sinthome es la consistencia de esas marcas, y por eso él reduce el sinthome a ser un acontecimiento de cuerpo. Algo ocurrió al cuerpo debido a lalengue. Esta referencia al cuerpo es ineliminable del inconsciente.” (MILLER, J-A. Síntoma y Sinthome. In: Piezas Sueltas. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Paidós, 2013, p. 75.)


  1. Discurso do mestre

“Por mais besta que seja esse discurso do inconsciente, ele corresponde a algo relativo à instituição do próprio discurso do mestre. É isso que se chama de inconsciente.” (LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise [1969-70]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 85)


“A formulação do discurso da análise que tentei dar-lhes demarca esse discurso a partir daquilo com que, por toda sorte de rastros, ele já à primeira vista se manifesta aparentado – a saber, o discurso do mestre. Ou melhor, é por estar mascarada a verdade do discurso do mestre que a análise adquire sua importância.” (LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise [1969-70]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 95)


“É sempre do significante que estou falando quando falo do Há-um [Yad’lun]. Para entender esse um [d’lun] na medida da sua ascendência, já que seguramente ele é o significante mestre, é preciso abordá-lo ali onde ele foi deixado por conta dos seus talentos, para lhe dar uma prensa.” (LACAN, J. O seminário, livro 19: …ou pior [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 146)


“Isso nos dá a oportunidade de passar para o avesso (esse é o propósito de meu seminário deste ano) da psicanálise, como aquela que é o discurso de Freud, que nele está suspenso. E isso sem recorrer ao Nome-do-Pai, do qual eu disse abster-me, viés legítimo a considerar da topologia que esse discurso deixa transparecer”. (LACAN, J. Radiofonia [1970]. In: LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, p. 428.)


“Notem, por outro lado, que se há algo que até hoje deu um enquadre ao circuito do supereu na história humana, é o que Lacan chamou Discurso do Mestre, o qual não é um movimento perpétuo, e permite uma produção e uma separação do mais de gozar, do gozo suplementar. De fato, o discurso do mestre captou o termo subjetivo e esse elemento de gozo suplementar que chamamos a, e os enquadrou a fim de limitar estritamente sua cópula. Por isso, [esse discurso] é eminentemente civilizador: rompe o circuito, se estabelece sobre uma quebra, [faz] uma barreira entre o sujeito e esse gozo suplementar, e corrige, pois, este impasse crescente da nossa civilização.” (MILLER, J.-A. El banquete de los analistas. Buenos Aires: Paidós, 2011, p. 307. Nossa tradução.)


“Chamamos de consciência de culpa a tensão entre o severo Supereu e o Eu que lhe está submetido; ela se manifesta como necessidade de punição. A cultura lida, portanto, com o perigoso prazer da agressão do indivíduo, enfraquecendo-o, desarmando-o e vigiando-o, por meio de uma instância em seu interior, como se fosse a ocupação de uma cidade conquistada.” (FREUD, S. O mal-estar na cultura [1930]. In: Cultura, Sociedade, Religião: O mal-estar na cultura e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. (Obras Incompletas de Sigmund Freud /coordenação Gilson Ianinni, Pedro Heliodoro Tavares), p. 377.


  1. Discurso do mestre contemporâneo

“Em minha primeira enunciação, há três semanas, partimos de que o saber, no primeiro estatuto do discurso do senhor, é a parte do escravo. Pensei ter indicado, sem poder desenvolver da última vez por um pequeno contratempo – que lamento –, que o que se opera entre o discurso do senhor antigo e o do senhor moderno, que se chama capitalista, é uma modificação no lugar do saber.” (LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise [1969-70]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 29-30)


“Jamais se honrou tanto o trabalho, desde que a humanidade existe. E mesmo, está fora de cogitação que não se trabalhe. Isto é um sucesso, então, do que chamo de discurso do mestre. Para isso, foi preciso que ele ultrapasse certos limites. Em poucas palavras, isso acontece àquilo cuja mutação tentei apontar-lhes. Espero que se recordem disso, e se não recordam – é bem possível –, vou lembrar-lhes já já. Falo dessa mutação capital, também ela, que confere ao discurso do mestre seu estilo capitalista.” (LACAN, J. In: O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise [1969-70]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 160)


“Vocês não são muito curiosos e além disso, sobretudo, são pouco intervencionistas, de maneira que, quando lhes falei do discurso do mestre no ano passado, ninguém veio me provocar para me perguntar como situava aí o discurso do capitalista. Eu esperava isso, só peço para explicá-lo a vocês, sobretudo porque é simples demais. Uma coisinha de nada que gira e o discurso do mestre de vocês mostra-se tudo o que há de mais transformável no discurso do capitalista.” (LACAN, J. O seminário, livro 18: de um discurso que não fosse semblante [1970-71]. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p.47).


“O que distingue o discurso do capitalismo é isto: a Verwerfung, a rejeição para fora de todos os campos do simbólico, com as conseqüências de que já falei – rejeição de quê? Da castração. Toda ordem, todo discurso aparentado com o capitalismo deixa de lado o que chamaremos, simplesmente, de coisas do amor, meus bons amigos. Como vocês veem, não é pouca coisa, certo?” (LACAN, J. Estou falando com as paredes: conversas na Capela de Sainte-Anne [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2011, p. 88)


“Não estou dizendo, de modo algum, que o discurso capitalista seja ruim; é, ao contrário, algo extremamente astucioso, hein? Insanamente astucioso, mas fadado a furar. Afinal de contas, foi o que se fez de mais astucioso como discurso. Não está menos condenado a furar. É só que é insustentável. É insustentável… numa coisa que eu poderia lhes explicar… porque o discurso capitalista está aí, vocês veem… [indica a fórmula no quadro] é simplesmente uma inversão, bem pequena, entre o S1 e o $… que é o sujeito… isso basta para que ele funcione como sobre rodas, não poderia andar melhor, mas, justamente, anda rápido demais, se consome, se consome tão bem que se consuma.” (LACAN, J. Do discurso psicanalítico [1972]. In: LACAN, J. Lacan in Italia,1953-1978. Milano: Salamandra,1978, p. 36. Tradução nossa.)


“Menos ainda na medida em que, ao referir essa miséria ao discurso do capitalista, eu o denuncio. Apenas indico que não posso fazê-lo a sério, porque, ao denunciá-lo, eu o reforço – por normatizá-lo, ou seja, aperfeiçoá-lo.” (LACAN, J. Televisão [1974]. In: LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2003, p. 516-517.)


“Em primeiro lugar, se refletirmos tranqüilamente, sem emoção, Lacan não hesitou em formular que o discurso do mestre era a estrutura do discurso do inconsciente, ou seja, os dois tinham a mesma estrutura. Ora, se quisermos, o discurso do mestre é um discurso social, é o discurso de uma civilização que prevaleceu desde a Antiguidade. Portanto, não é absurdo, a priori, que o discurso da civilização de hoje tenha a mesma estrutura que o discurso do analista, isso não é inconcebível, sobre bases eventualmente desejantes a partir das quais trabalhamos.” (MILLER, J.-A. Uma fantasia. In: Opção Lacaniana: Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, São Paulo, n.42, fev. 2005, p. 7-18. Disponível também em: https://2012.congresoamp.com/pt/template.php?file=Textos/Conferencia-de-Jacques-Alain-Miller-en-Comandatuba.html. Acesso em 29 de abril de 2024.)


“Então, de repente, eu me perguntei: será que o objeto a seria – como dizer? – a bússola da civilização de hoje? E por que não? Tentemos ver nisso o princípio do discurso hipermoderno da civilização.” (MILLER, J.-A. Uma fantasia. In: Opção Lacaniana: Revista Brasileira Internacional de Psicanálise, São Paulo, n.42, fev. 2005, p. 7-18. Disponível também em: https://2012.congresoamp.com/pt/template.php?file=Textos/Conferencia-de-Jacques-Alain-Miller-en-Comandatuba.html. Acesso em 29 de abril de 2024.)


  1. Discurso do analista

“Em se tratando da posição dita do analista – nos casos, aliás, improváveis, pois haverá mesmo um analista?, quem pode saber?, mas teoricamente podemos postulá-lo –, é o próprio objeto a que vem no lugar do mandamento. É como idêntico ao objeto a, quer dizer, a isso que se apresenta ao sujeito como a causa do desejo, que o analista se oferece como ponto de mira para essa operação insensata, uma psicanálise, na medida em que ela envereda pelos rastros do desejo de saber.” (LACAN, J. O seminário, livro 17: o avesso da psicanálise [1969-70]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1992, p. 99)


“Esses discursos, que designei, nomeadamente, como discurso do mestre, discurso universitário, discurso que privilegiei com o termo da histérica e discurso do analista, têm a propriedade de sempre se ordenar a partir do semblante. Esse ponto de ordenação é também aquele pelo qual os destaco. Que tem de privilegiado o discurso analítico, por ser aquele que nos permite, articulando-os dessa maneira, reparti-los em quatro disposições fundamentais? É singular que tal enunciação se apresente como que ao término do que foi permitido por aquele que está na origem do discurso analítico, a saber, Freud. Ele não o permitiu a partir de nada. Permitiu-o a partir do que se apresenta – já o articulei muitas vezes – como sendo o princípio do discurso do analista, ou seja, aquele que se privilegia por um certo saber que esclarece a articulação da verdade com o saber.” (LACAN, J. O seminário, livro 18: de um discurso que não fosse semblante [1971]. Rio de Janeiro: Zahar, 2005, p. 152-153)


“O Um de que se trata no S1, aquele que o sujeito produz, ponto ideal, digamos, na análise, é, ao contrário do que se trata na repetição, o Um como Um só [Un seul]. É o Um não medida em que, seja qual for a diferença existente, sejam quais forem todas as diferenças que existem e todas as quais se equivalem, existe apenas uma: é a diferença.” (LACAN, J. O seminário, livro 19: …ou pior [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 159).


“Quando alguém me procura no meu consultório pela primeira vez e eu escando nossa entrada na história com algumas entrevistas preliminares, o importante é a confrontação dos corpos. É justamente por isso partir desse encontro de corpos que este não entra mais em questão, a partir do momento em que entramos no discurso analítico.” (LACAN, J. O seminário, livro 19: …ou pior [1971-72]. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 220)


“Esse é o hic que só se faz nunc quando se é psicanalista, e também lacaniano. Em breve, todo o mundo o será – minha audiência é um pródromo disso – e, portanto, também o serão os psicanalistas. Para isso, bastaria a ascensão ao zênite social do objeto que chamo pequeno a, pelo efeito de angústia provocado pelo esvaziamento com que nosso discurso o produz, por faltar à sua produção.” (LACAN, J. Radiofonia [1970]. In: LACAN, J. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003, p. 411)


“O analista, com efeito, de todas as ordens de discurso que se sustentam atualmente – e este termo não é um nada se damos ao ato seu pleno sentido aristotélico – é aquele que, ao pôr o objeto a no lugar do semblante, está na posição mais conveniente para fazer o que é justo fazer, a saber, interrogar como saber o que é da verdade.” (LACAN, J. O seminário, livro 20: mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, p. 129)


“O que os salva [aos analistas] – o que os salva mesmo assim – é ter êxito em fazer de sua posição de dejeto o princípio de um novo discurso. De ter tido êxito em sublimar o suficiente sua degradação para elevá-la à dignidade de uma prática, ou seja, de um objeto de troca.” (MILLER J.-A. A salvação pelos dejetos. In: Correio: Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise,  n. 67, dez, 2010, p. 23-24).


“Entonces, que é un analista na clínica del sinthome? Por lo menos, es un sujeto que ha percebido su modo de gozar como absolutamente singular, la contingencia de ese modo de gozar, que ha captado – de que modo? – su gozo como fuera de sentido. El equívoco que Lacan hace ver – escuchar – entre goce (jouissance) y sentido gozado (jouis-sens), entre goce y oigo sentido (j’ouis sens) sin duda cuando avanzó era una equivalencia, pero una vez planteada esta equivalencia renegó de ella: el goce es justamente el reverso del sentido gozado, el sentido gozado es lo que sirve para olvidar el ser del goce.” (MILLER, J. A. Sutilezas Analíticas. Buenos Aires: Paidós, p. 95.)

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