
#07 – OUTUBRO 2024
EDITORIAL
Patricia Badari (EBP/AMP)
Diretora Geral da EBP
Caros leitores,
“Os corpos aprisionados pelo discurso …e seus restos” – XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Um Encontro que é precedido por vinte e quatro outros Encontros e que conta com uma comunidade de trabalho. A EBP, suas instâncias, suas Seções, seus membros, cada colega que contribui com sua escrita, com sua elaboração em textos, podcasts, com o envio de trabalhos para a jornada clínica, discussões em preparatórias e os trabalhos em comissões. Um Encontro que só é possível porque há o trabalho daqueles que sabem “colocar o bloco na rua”, que nos instigam, nos acolhem e preparam, inclusive, toda a infraestrutura para nos receber presencialmente em novembro.
NOTAS E TONS
Linguagem e incidências do real no corpo
Carla Fernandes (EBP/AMP)
O tema do XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano abre um campo de investigação sobre as noções de corpo e discurso no ensino de Lacan. Partindo da ideia da linguagem enquanto estrutura, uma interrogação permite trilhar uma via: qual a relação entre linguagem e corpo? A noção de sintoma, que atravessa a experiência de uma análise e a própria psicanálise desde seus fundamentos, permite bordejar, não sem um esforço de poesia, a incidência do real e seus efeitos.
Há Um: corpo – memória
Renato C. Vieira (EBP/AMP)
Pretendo abordar a dimensão de um corpo aprisionado pelos discursos através da contingência de um encontro e seus efeitos no campo do Outro. Acontecimento único, traumático e assemântico que produz efeitos de um gozo persistente. Um dizer silencioso da pulsão que deixa marcas indeléveis.
Uma experiência analítica vai do sintoma à fantasia e seu retorno – retorno que pressupõe o conceito de Sinthoma. O Sinthoma, chave do último ensino de Lacan, “designa o que há de comum entre sintoma e fantasia, a saber, o modo singular de um sujeito gozar”.
A parte que me cabe…
(Notas sobre o último ensino e a clínica psicanalítica)
Marcus André Vieira (AME da EBP/AMP)
Parece anacrônico promover o Um, como faz Lacan no Seminário 19, quando estamos banhados, hoje, em ampla idealização do múltiplo, das múltiplas tribos, sexualidades, identidades. Tudo o que é plural e diverso parece superior ao que é unitário e geral.
A multiplicidade, tão idealizada em nossos dias, torna-se apenas enxame, quando não guerra de tribos, se não estiver em relação com algum modo de coesão e coerência que lhe confira um mínimo de unidade. Então, mais que nunca, esse seminário é atual. Resta delimitar do que ele trata quando fala em Um.
Os corpos aprisionados pelos discursos… e seus restos
Maria Josefina Sota Fuentes (AME da EBP/AMP)
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer às instâncias envolvidas por este convite, que me colocaram diante do desafio de comentar o tema do 25º Encontro Brasileiro, cujo título foi extraído do último capítulo do Seminário 19 de Lacan.
Sendo esta uma atividade preparatória, pensei em trazer alguns pontos que me chamaram a atenção neste capítulo que é bastante complexo, pois ele se dá no momento que Lacan muda de paradigmas, mas sem anunciar que edifício teórico se sustentará em novas bases. Tais mudanças acompanham, inclusive, as novas formas civilizatórias com as quais o gozo é tratado pela linguagem, isto é, a maneira como os corpos são dominados pelos discursos.
…DIZERES E SUAS REVERBERAÇÕES
Análise: uma experiência de corpo
Andréa Reis Santos (EBP/AMP)
Este fragmento do texto de Esthela Solano-Soarez em “Hagan como yo, no me imiten” consegue condensar uma parte do que foi para ela a densidade da presença de Lacan na função de seu analista. O título escolhido por ela – retirado de uma fala do próprio Lacan dirigida a seus alunos –, “não me imitem, façam como eu”, já nos indica que nessa presença o que está em jogo é um estilo único, intransferível, que não se presta a servir de modelo ou objeto de identificação. Já o primeiro tempo da frase: “façam como eu”, nos indica que há uma orientação. Uma orientação não para o semelhante, mas para o singular…
Analista presente!
Iordan Gurgel (AME da EBP/AMP)
Este parágrafo que comento integra uma conferência/texto de Fernanda Otoni Brisset que articula o impossível de dominar e a presença do analista que, na posição de semblante de a, oferece-se à ressonância da língua de cada um. Estamos no campo da clínica do real que promove a separação do corpo dos significantes que marcaram e parasitaram o sujeito.
Triunfo Yorubá
Wilker França
Integrante da Comissão de Arte e Cultura
Para iniciar, conto a história da criação do mundo pela cultura Yorubá que é explicado por meio de uma rica mitologia, que envolve divindades chamadas Orixás. As histórias desses deuses são contadas a partir de itãns, os relatos míticos (lendas), transmitidas principalmente pela oralidade. Contudo, relatarei trechos de uma história que está presente no livro de Prandi.
Olodumare, deus supremo, encarregou Obatalá (Oxalá) de criar a Terra, que inicialmente consistia apenas de água e caos. Antes de iniciar sua missão, Obatalá foi aconselhado por Orunmilá, o sábio orixá do destino, a fazer oferendas, mas ignorou o conselho, confiando apenas em seu poder. Seu irmão, Odudua, seguiu as instruções de Orunmilá e fez as oferendas.
A ciranda de Lia: uma roda ante o racismo
Nelson Matheus
Integrante da Comissão de Arte e Cultura
“Na ciranda me batizei e estou aqui com a ciranda no meio do mundo”. É assim que Lia de Itamaracá apresenta sua relação íntima com essa expressão da cultura popular nordestina, a ciranda, uma conjugação entre dança e musicalidade, uma causa para sua vida. Foi através da ciranda que Lia fez um nome que deu um contorno à sua existência e se tornou, ela mesma, um Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco.
Seu reconhecimento, a partir da década de 1960, advindo por meio de suas parcerias de trabalho com a compositora Teca Calazans, entretanto, não blindou Lia da experiência de racismo que sofreu ao longo de sua vida. ‘Escurinha’, ‘boneca de piche’…

Diretoria do Encontro: Patricia Badari (Presidente) | Niraldo de Oliveira Santos (Diretor) | Alessandra Pecego e Rômulo Ferreira da Silva (Coordenadores Gerais)
Comissão do Boletim: Coord: Gustavo Menezes (SP) e Renata Gomes Martinez (RJ) | Adriana Rodrigues (SUL) | Cleyton Andrade (NE) | Daniela Nunes Araújo (BA) | Fabrício Donizetti (SP) | Olívia Viana (MG) | Thereza de Felice (RJ)
Designer: Bruno Senna