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LANÇAMENTO DO XXV ENCONTRO BRASILEIRO DO CAMPO FREUDIANO

LANÇAMENTO DO XXV ENCONTRO BRASILEIRO DO CAMPO FREUDIANO

“Os corpos aprisionados pelo discurso …e seus restos”

Patricia Badari
Diretora Geral da EBP e
Presidente do XXV EBCF
Lucio Fontana, Spatial Concept. Waiting. 1964.

 (…) Quem não souber cantar não leia “Paisagem n. 1”. Quem não souber urrar não leia “Ode ao Burguês”. Quem não souber rezar, não leia “Religião”. Desprezar: “A Escalada”. Sofrer: “Colloque Sentimental”. Perdoar: a cantiga do berço, um dos solos de Minha Loucura, das Enfibraturas do Ipiranga. Não continuo (…).[1]

É Mário de Andrade nos dando a chave de leitura de seu livro de poemas “Pauliceia desvairada”.

Estamos aqui[2] na Pauliceia Desvairada para lançarmos o XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, da Escola Brasileira de Psicanálise.

“Uma Escola é feita para durar”, nos transmitiu Jacques-Alain Miller em 1995, em sua carta à EBP no momento de sua fundação[3]. A EBP fará 30 anos em 2025. Ela dura. Ela dura com o trabalho de seus membros, com o trabalho de suas instâncias, com o trabalho que lançamos hoje.

O Encontro Brasileiro é um dos momentos em que todos os membros da EBP, em que todos os colegas interessados pela psicanálise de orientação lacaniana, se põem ao trabalho em torno de um tema.

Um tema que advém dessa Escola que dura. Um tema que é fruto de um trabalho feito por todos ao longo desses quase 30 anos. Um tema que parte dos impasses, das interrogações advindas da clínica.

A psicanálise, desde Freud e com Lacan. Na EBP e com a AMP. Na EBP e no laço social, sua prática e seu ensino são indagados, reformulados e sustentados com rigor. Uma prática e um ensino que se constroem, conceito a conceito, a cada impasse, feitos de continuidades e descontinuidades da própria práxis e desse ensino orientados para o real. Uma orientação pautada no héteros, no furo e no corpo.

Em 2022, realizamos o XXIV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, cujo título foi “Analista: presente!”. Nessa ocasião, Christiane Alberti, presidente da Associação Mundial de Psicanálise, em seu texto de abertura nos deu uma orientação muito clara para nosso trabalho de Escola. Ela disse:

Com Lacan, trata-se de pensar as questões clínicas atuais, como o corpo, a sexuação, o imaginário [e podemos acrescentar o simbólico e o real], para a um só tempo elucidar, esclarecer os novos sintomas ou os debates da sociedade, se quisermos manter a oferta da psicanálise estando à altura da época, a oferta de uma psicanálise que não esteja com os pés acima do chão.[4]

Nesse mesmo Encontro de 2022, tivemos o prazer de desfrutar de uma grande conversação instigada pelas questões trazidas por Helenice de Castro e Marcus André Vieira. Essa conversação, publicada na Revista Correio n.90 sob o título “Acontecimentos políticos de corpo: o analista e a segregação”[5], interrogou-nos epistêmica, clínica e politicamente e nos deixou o gosto pela conversação.

Se trago um pouco desta história da EBP e de seus Encontros, novamente, é porque a EBP dura. Porque ela é feita desses trabalhos anteriores que nos relançam à novas questões e de onde partimos para novos Encontros, para o XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Hoje, lançamos este Encontro cujo tema parte de 2022, mas que faz série, e não automaton, com os que tivemos desde 1995.

“Os corpos aprisionados pelo discurso” foi o tema proposto para este XXV Encontro, pois além de ser o título do capítulo XVI do seminário 19 “… ou pior”, porta a enunciação de Lacan. Propõe-nos o trabalho sobre o estatuto do corpo ao longo do ensino de Lacan, o falasser e sua relação com o corpo, os sujeitos que se apresentam cada vez mais perturbados pelo gozo do corpo. Propõe-nos um trabalho sobre os discursos no ensino de Lacan, sobre os sujeitos cada vez mais reativos ao inconsciente. E, sobretudo, nos interroga sobre a clínica do Um sozinho, orientação que extraímos de Jacques-Alain Miller em seus cursos e textos.

Mas, se hoje lançamos este Encontro é porque já há um trabalho imenso em andamento. A comissão científica já trabalhou muito e a consequência deste trabalho é o acréscimo preciso ao título: “Os corpos aprisionados pelo discurso …e seus restos”.

Não existe discurso que não seja semblante, disse Lacan. A própria psicanálise “toma seu ponto de partida em um semblante, o objeto a. Como qualquer outro discurso, a psicanálise é um artifício. Ela é um certo modo de abordar lalíngua. O privilégio para a psicanálise (…) é o de ser esse viés que tem a vocação de fazer falhar os semblantes. Isso pressupõe que ela não se remeta ao seu próprio semblante, porque no final das contas, seu próprio semblante (o objeto a), para ela é abjeção”[6], nos diz Miller em “Teoria de lalíngua”. Restos, dejetos, mas a “salvação é pelos dejetos”[7].

Assim, hoje lançamos esse programa de investigação e trabalho da EBP. Agradeço às diretoras que comigo compõem a atual diretoria da EBP: Andréa Reis, Márcia Stival e Marilsa Basso, que desde o início de nossa gestão se dispuseram a trabalhar em cartel esse tema como orientador de um percurso. Agradeço à Helenice de Castro quem, além de ser responsável por nos instigar sobre tais questões, lá em 2022, aceitou ser Mais-um do cartel que compusemos.

Agradeço ao Conselho da EBP que desde o princípio acolheu essa proposta de trabalho para o XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Agradeço à Christiane Alberti que nos deu essa orientação muito precisa e que aceitou seguir conosco esse trabalho. Christiane Alberti é nossa convidada e estará presencialmente em São Paulo. Contaremos também com Carolina Koretzky, Analista da Escola (AE), que virá trabalhar conosco questões pertinentes ao tema a partir de seu testemunho.

Agradeço à Niraldo de Oliveira Santos (Diretor do XXV EBCF e Diretor Geral da EBP – Seção São Paulo, Seção que sedia esse trabalho). Agradeço à Alessandra Sartorello Pecego e Rômulo Ferreira da Silva, coordenadores do Encontro, e todos os coordenadores das comissões e demais colegas que já estão a trabalho.

Agradeço aos Institutos do Campo Freudiano de São Paulo pela colaboração para que este lançamento pudesse acontecer neste local especial da cidade de São Paulo.

E à Biblioteca Mário de Andrade, meu especial agradecimento. Ela nos abriu as portas deste lugar icônico que, para além de seu esplendoroso acervo, é um lugar de referência da cultura na cidade.

Este é um Encontro de Escola, uma Escola que é feita de seus membros, de suas Seções. Assim, agradeço aos diretores de todas as Seções da EBP que já estão nesse trabalho e, hoje, propiciaram a retransmissão deste lançamento em cada canto deste enorme Brasil.

Aguardemos as questões e elucidações que nossa comunidade nos trará!

Vamos lá, rumo ao XXV Encontro Brasileiro que será realizado nos dias 8, 9 e 10 de novembro deste ano, em São Paulo.

Bom trabalho a todos nós.

Obrigada.


[1] ANDRADE, M. “Prefácio interessantíssimo”. In: Pauliceia desvairada. São Paulo: Novo Século Editora, 2017, p. 25.
[2] Texto apresentado na atividade de lançamento do XXV EBCF na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, no dia 9 de março de 2024.
[3] MILLER, J-A. (1995) “Carta de Jacques-Alain Miller à EBP”. In: Anuário de membros da EBP e textos estatutários. São Paulo: EBP, 2023, p.132.
[4] ALBERTI, C. “A psicanálise presente no mundo!” In: Correio: Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. São Paulo: EBP, n. 88, outubro/novembro 2022, p. 15.
[5] CASTRO, H. e VIEIRA, M. A. “Acontecimentos políticos de corpo: o analista e a segregação”. In: Correio: Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. São Paulo: EBP, n. 90, abril 2023, pp.75-108.
[6] MILLER, J.-A. “Teoria de lalíngua”. In: LACAN, J. e MILLER, J-A. A terceira; Teoria de lalíngua. Rio de Janeiro: Zahar, 2022, p.109.
[7] MILLER, J-A. “A salvação pelos dejetos”. In: Correio: Revista da Escola Brasileira de Psicanálise. São Paulo: EBP, n.67, 2010, p.26.
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