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EDITORIAL CODA #01

EDITORIAL CODA #01

Gustavo Menezes
Renata Martinez
Coordenadores da Comissão de Boletim do XXV EBCF
Lucio Fontana, Spatial Concept. Waiting (1963-1964).

Um nome marca, constitui, mas também interroga, instiga… Coda: assim batizamos o Boletim do XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano. Sonoramente, é curto, cortante. É também enigmático por não aparecer muito em nossa língua. No Seminário, livro 19: …ou pior, “Coda” é como Jacques-Alain Miller intitulou sua quarta e última parte, uma escansão que nos conduz ao nome de nosso Encontro: “Os corpos aprisionados pelo discurso …e seus restos”.

Coda, que em italiano significa “cauda”, é a seção com que se termina uma música, mas com a particularidade de o intérprete poder ou não utilizar ideias anteriormente apresentadas ao longo da composição. São saltos que se estabelece, estipulando-se um antes e um depois com a introdução de novos elementos, variações, modulações, repetições ou mesmo de uma novidade que surpreende. Em uma partitura musical, seu símbolo é marca da diferença ao apresentar a seção final ou um certo trecho da música.

Em certo sentido, é o ritmo imposto pelo próprio Seminário 19, sobretudo nas últimas lições. É preciso retornar a pontos anteriores antes de concluir. “Comecei meio que a me reler, Deus sabe por quê…”[1], disse Lacan, fazendo referência ao seu Seminário de 1956, sobre as psicoses, retomado por ele naquele momento. O leitor encontrará outras marcações.

Em conversa com Judith Miller, Diego Masson – chefe de orquestra a quem, segundo ela, seu pai se dirigia quando buscava explicações relativas à música – diz que, para Lacan, diante de uma música, seria muito mais interessante podermos gozar de algo que não se compreende e para o qual não haja nenhuma significação sentimental. Após um concerto em Aix-en-Provence, Lacan lhe teria dito: “No fim das contas, Haydn é talvez ainda mais forte que Mozart! Há em Mozart sentimentos que podemos descrever com palavras, enquanto Haydn, ele é totalmente abstrato, é como uma equação matemática, sem nenhum sentimento e, entretanto, é extremamente prazeroso e pleno de surpresas”[2].

Como um fio musical que percorre o ensino de Lacan, com seus acordes, nossa aposta é que Coda possa, não apenas marcar o ritmo de nosso trabalho, mas ressoar, tocar cada leitor com as elaborações, construções e informações produzidas por toda a comunidade envolvida nesse vasto caminho até novembro!

Neste primeiro número, vocês poderão ler o Argumento, elaborado pela comissão científica, e as apresentações que Patrícia Badari (Diretora geral da EBP e Presidente do XXV EBCF) e Niraldo de Oliveira Santos (Diretor do XXV EBCF) fizeram na ocasião do lançamento do evento, ocorrido na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, no dia 09 de março de 2024.

A obra de Lucio Fontana, a quem Lacan se refere na última lição do Seminário 19, com sua spaccatura, sua fenda, vem acompanhar os textos deste número. Há duas vias às quais a experiência analítica pode se filiar e nelas apostar, diante do discurso do mestre que aprisiona os corpos: a via do sujeito na sua fenda, pela interpretação simbólica, e a via do real, através do equívoco e da ressonância, do fora de sentido. Temos, portanto, um intenso programa de trabalho.

As informações sobre inscrições, local do evento, hospedagem e comissões organizadoras já estão disponíveis em nosso site. Ao final da página, encontram-se os links de acesso.

Desejamos uma boa leitura e um ótimo início de trabalho, rumo ao XXV Encontro Brasileiro!


[1] LACAN, J. (1971-1972) O Seminário, livro 19: …ou pior. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 217.
[2] MASSON, D. “Lacan, la musique”. Conversa com Judith Miller. In: Revue La Cause freudienne. Paris: ECF, Navarin Ed., n.79, 2011/3, p. 59.
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