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Editorial Coda #06

Rômulo Ferreira da Silva (AME da EBP/AMP)
Coordenador Geral do XXV EBCF

Adriana Varejão
Ruína de Charque. Porto, 2001.

Caros leitores,

Chegamos ao sexto número do CODA, boletim do XXV Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, penúltimo dessa série.

Como já circulou em nossas redes sociais, nosso Encontro se aproxima com as vagas esgotadas a apenas dois meses da data do evento. Da mesma maneira, a Festa EVOÉ, que ocorrerá no Cineclub Cortina, chegou à lotação máxima.

Dia 15 de setembro foi a data limite para o envio dos trabalhos e não houve prorrogação, já que tivemos um número satisfatório de envios. Um enorme trabalho para a Comissão Científica fazer a seleção dos trabalhos que irão compor as Jornadas Clínicas que ocorrerão no dia 8 de novembro.

Adriana Varejão é a artista com destaque neste número. A Comissão de Arte e Cultura, através da apresentação de Isabel do Rêgo Barros Duarte, retoma comentários de dois queridos colegas que já nos deixaram, Stella Maris Jimenez Gordillo e Manoel Barros da Motta. Stella privilegia a perturbação do sujeito em relação ao próprio corpo ao abordar a obra Linda do Rosário, na qual o real se escancara por trás da boa forma. Manoel apresenta a dimensão de horror das vísceras, corpos fragmentados, em oposição à imagem tropical retratada por pintores europeus clássicos em Carne à la Taunay e Carne à moda de Franz Post.

Nas reverberações dos dizeres de Lacan, Silvia Sato faz um recorte da experiência teatral para propor que um corpo falante pode “prescindir do corpo a corpo e se deitar no divã”, a partir da psicanálise, que possibilita “tocar no modo de gozo que não se compartilha”. Nancy Greca Carneiro retoma “duas pontinhas de futuro” do Seminário 17 que destacam “o essencial do que transmitirá” em seguida: “os poderes dos impossíveis e a impotência da verdade”. A partir do campo Uniano, ela aponta para o analista com seu corpo, como possibilidade de sua presença no mundo.

O CODA 06 repercute a movimentação da EBP em torno do tema proposto e os textos conversam uns com os outros. Por exemplo, sobre a proposição de Nancy acerca da presença do analista no mundo, encontramos no texto de Elisa Alvarenga que a resposta da psicanálise é sempre anti-segregativa pois, por essa via, temos a possibilidade de um coletivo no qual os indivíduos não se colocam em um grupo contra outro. No caminho inverso à constituição do sujeito, a análise promove tanto as desidentificações quanto a travessia da fantasia, que são “eminentemente segregativas de modos de gozo diferentes daquele do sujeito”. Elisa parte da raiz segregativa que é o ódio de si mesmo, ou seja, a segregação da substância gozante que habita o falasser. É o que se evidencia e se intensifica na época da evaporação do pai.

Essa evaporação se demonstra mais ainda, podemos entender assim, no “desamparo dos humanos frente ao trabalho impossível do Outro da cultura”, obtendo como resposta a religião, como nos apresenta Jésus Santiago. Jésus nos diz que a religião se funda a partir da presença do real contingente no laço social. E do que se trata a religião verdadeira? Seria aquela que “não seja nada mais que uma religião”, nem política, nem povo, nem lei. Esse texto articula em vários pontos o evento ZADIG, ocorrido no dia 13 de setembro de 2024 em Salvador, com o XXV Encontro Brasileiro. Coloco em destaque a abordagem da fraternidade religiosa: “ela pode facilmente, por seu apego inabalável ao saber sobre quem é puro (sagrado) ou impuro, ou sobre quem está dentro ou fora (herético) de suas verdades, desviar-se ao pior”.

Jésus se junta à Elisa na aposta do dizer da solidão do Um como alternativa ao pior, a partir do discurso analítico.

E a conversa continua. Nem sempre na concordância, temos espaço para o debate. “Nosso não-todo é a discordância. (…) Ao levantar uma questão, a relação sexual, que não existe – no sentido de que não se pode escrevê-la –, essa relação sexual determina tudo o que se elabora a partir de um discurso cuja natureza é ser um discurso rompido”[1].

Rodrigo Lyra Carvalho evoca a tríade proposta por Lacan em 1958 – tática, estratégia e política – para propor finalmente que “os manejos das identidades têm o desafio existencial de encontrar maneiras inéditas de enlaçar singular, particular e universal – e esse cenário oferece à psicanálise uma oportunidade ímpar de explorar sua relevância clínica e cultural”.

Mais uma vez verificamos nos textos que circulam no CODA, nos podcasts, nos comentários e referências do nosso trabalho em torno dos corpos, dos discursos e dos restos, o ir e vir entre a clínica e a cultura.

Uma boa leitura!


[1] Lacan, J. (1971-1972). O Seminário, livro 19: …ou pior. Rio de Janeiro: Zahar, 2012, p. 22-23.

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