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Habeas corpus

por JACQUES-ALAIN MILLER

Há dois anos, em Paris, apontei nossa bússola, a bússola da Associação Mundial de Psicanálise, de modo que ela indicasse a direção do último ensino de Lacan. Eis aí o que orientou nosso X Congresso. Seu título me foi inspirado pela frase que termina um dos capítulos do Seminário 20: “O real … é o mistério do corpo falante, é o mistério do inconsciente”1. Por conseguinte, sugeri então como tema “O inconsciente e o corpo falante”.

Mas podemos constatar – creio – que o brilho do corpo o fez se sobrepor ao tema do inconsciente. Para nós, a novidade, que apareceu como tal, foi tratar do corpo falante. Salvo algum erro de minha parte, a presença do termo “inconsciente” passou inteiramente para o segundo plano deste Congresso. Diria que foi bom ter sido assim, pois nos fez entrar com entusiasmo na questão. É também o que me dá a ocasião de apresentar algumas pontuações para elucidar a natureza do último ensino de Lacan, seu lugar na trajetória de conjunto e o uso que podemos fazer dele, hoje. Vou então me deter, antes de propor um novo título para Barcelona, nenhuma decisão foi tomada ainda a esse respeito.

O inconsciente e o corpo falante*

por JACQUES-ALAIN MILLER

Mais do que na cereja sobre o bolo, prefiro pensar na infusão que lhes servirei como um digestivo, depois das iguarias trazidas por este Congresso, a fim de abrir o apetite enquanto pensam naquele que acontecerá daqui a dois anos. Espera-se, então, que eu introduza o tema do próximo Congresso.

Digo a mim mesmo que isso dura há mais de trinta anos, se considerarmos que os Congressos da AMP deram continuidade aos Encontros do Campo Freudiano que começaram em 1980. Aqui estamos, portanto, mais uma vez, ao pé do mesmo muro (mur). A palavra Muro me veio à cabeça, ela não deixa de evocar o neologismo que debocha do amor. É ao amuro (amur) que devo a honra invariável de dar o lá da sinfonia, aquela que os membros da AMP, nós, terão de compor ao longo dos dois anos que se passarão antes de nos encontrarmos? Seria esse um fato de transferência remanescente com relação ao lugar daquele a quem coube a tarefa de fundar nossa Associação outrora? Mas, como acabo de lembrar, assumi essa tarefa, de intitular, de dar um nome, pelo menos um tema, desde antes, desde o primeiro Encontro Internacional que aconteceu em Caracas com a presença de Lacan. Se há amuro, eu não o remeterei à função de fundador, em nada consagrada nos nossos estatutos, mas gostaria de referi-lo à de um batedor, função que me atribuí ao intitular meu curso como «A Orientação Lacaniana».

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